NOVE HAIKAIS : TEMPO DE CHUVA

Andityas Soares de Moura

Para Francisco Álvarez Velasco




"Nu com meias pretas", de Pierre Bonnard


Duvidas da tristeza.

Em cada coxa, o fim de tudo.

negro é o esplendor da posse

"A Casa do Enforcado", de Paul Cèzanne


Esgueirar o olfato

luz tingida de sangue.

A parede delineia a tarde:

beija a boca do céu

"A suplicante", de Camille Claudel


Cada homem estremeceu,

pois era o gesto carnal

do exílio que surpreendia.

Detalhe central do "Juízo Final" de Michelangelo


Som nos lábios, réstia de luz

a pintura se constrói

por armadilhas

"O Sono da Razão produz monstros", de Goya


É essencial esquecer.

Os pés tocam o barro,

esvaziam-se todos os livros.

"Corvos no trigal", de Van Gogh


Holocausto do olhar

Algo infinitamente profundo:

o trigo sabe que será colhido

"A Liberdade guiando o povo", de Delacroix


Riqueza de fornalhas, peitos redondos.

recordações infantis:

o tempo vos invadirá

"O Retorno do filho pródigo", de Rembrandt


Escorre uma leve certeza do pai:

A escuridão sem fim

não é nada.

"Êxtase de Santa Tereza", de Bernini


A carne é apenas mais um dos mistérios da fé.

debaixo da pedra: o suor.

a compreensão de que nada é

suave.                                                             

 

 e-mail del autor: andityas@bol.com.br

 

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